Santinato & Santinato Cafés
  • 01/02/2020

ADUBAÇÃO ORGÂNICA COM PALHA DE CAFÉ E A UTILIZAÇÃO DA SUBSOLAGEM E DO MANEJO DO CENTRO DA RUA DO CAFÉ EM BENEFICIO DO CAFEEIRO

  • Roberto Santinato
  • Felipe Santinato
  • Reginaldo Oliveira Silva

A palha de café é a fonte de matéria orgânica mais disponível e econômica nas propriedades cafeeiras quer quando o café é beneficiado na mesma quer quando retorna de beneficio fora da própria. Cada saca beneficiada de 605 kg produzida gera cerca de 50 a 60 kg de palha de café possuindo alto teor de potássio além de N P e S. É portanto compensatório o seu uso objetivando a redução proporcional de seus nutrientes da adubação mineral notadamente o potássio. Além do efeito nutricional devemos ainda considerar como citado pela literatura os efeitos benéficos para as propriedades físicas físico-químicas químicas e biológicas do solo.

A palha de café por se tratar de um material orgânico tem grandes variações em sua composição. Mas normalmente os teores nutricionais desse material são aproximadamente de: 1% de N; 03% de P2O5; 35% de K2O; 07% de S e relação C/N ao redor de 30.

Nos últimos anos nossa equipe realizou alguns trabalhos de grande importância para o cafeicultor no que se diz respeito à utilização deste composto definindo doses e o manejo adequado. O primeiro trabalho foi instalado desde o plantio do cafeeiro no município de Araxá MG. As doses testadas foram; 0 (T1); 25 (T3); 50 (T4); 100 (T5) e 200 (T6) t ha-1 de palha de café além do padrão mineral (T2). As aplicações foram realizadas inicialmente no sulco de plantio e em cobertura até a 6ª safra avaliada adicionando-se a palha em faixas de 70 a 80 cm de largura de cada lado da linha de café. Vale ressaltar talvez o item mais importante do trabalho que as doses dos fertilizantes minerais utilizados normalmente na condução da lavoura tiveram reduções conforme os teores dos nutrientes contidos em cada dose de palha de café adicionada em cada tratamento (Tabela 1).

Tabela 1. Discriminação dos insumos utilizados na adubação dos cafeeiros de 0 a 90 meses de condução.

Insumos Doses (t ha-1)
T1 T2 T3 T4 T5 T6
1- Calcário Dolomitico 40 72 59 49 51 46
2- Yoorim Master II S 00 125 118 111 104 097
3- Uréia 00 49 46 303 12 10
4- Sulfato de Amônio 00 41 34 26 23 22
5- Cloreto de Potássio 00 391 29 27 08 00
6- MAP 00 11 08 07 05 01
7- Palha de Café 00 00 200 400 800 1600

A tabela 2 reúne os resultados obtidos até a 6ª safra sem a catação. Pelo mesmo verificamos a importância da adubação NPKS que quando ausente (T1) reduziu significativamente a produtividade em 48% com relação ao tratamento com adubação exclusivamente mineral na média das seis safras. Os demais tratamentos foram superiores em produtividade à testemunha de 48% a 67%. A palha de café associada à adubação mineral reduzida (T3 T4 T5 e T6) tiveram produtividades superiores à adubação exclusivamente mineral. Essa superioridade de 16 a 18% provavelmente se deve a liberação lenta dos nutrientes NPKS contidos na palha além da melhoria das condições físicas químicas e biológicas do solo. Na análise do solo verificou-se que o teor de matéria orgânica eleva-se a partir da dose de 50 t ha-1 de palha de café o mesmo ocorre com o V% CTC. O P e S não sofrem alterações significativas. Com relação aos micronutrientes o Boro tende a subir e o Cobre Zinco e Manganês a diminuir na dose maior de Palha de Café.

Tabela 2. Adubação orgânica na formação e produção do cafeeiro cultivado em solo de cerrado com doses crescentes de palha de café associadas à adubação mineral reduzida proporcionalmente aos nutrientes NPKS contidos na palha.

Tratamentos Produtividade (Sacas de café beneficiadas ha-1)
        Catação    R% 1ª Safra R% 2ª Safra R% 3ª Safra     R%
T1 (Testemunha) 12 a -18 286 c -55 250 a -30 397 c -48
T2 (AMT) 23 b 100 633 b 100 359 b 100 755 ab 100
T3 27 b +17 706 ab +11 412 b +15 850 a +12
T4 37 c +60 781 a +23 456 b +27 945 a +25
T5 31 bc +35 808 a +28 428 b +19 957 a +27
T6 27 bc +17 768 ab +21 397 b +10 827 a +9
CV (%)       1871      2643      2485       2126  
Tratamentos Produtividade (Sacas de café beneficiadas ha-1)
        4ª Safra    R% 5ª Safra R% 6ª Safra R% Média 6 safras    R%
T1 (Testemunha) 212 a +30 231 c -68 212 a +7 264 b -44
T2 (AMT) 162 a 100 706 ab 100 198 a 100 468 a 100
T3 228 a +40 915 a +29 157 a -21 544 a +16
T4 171 a +5 694 ab -2 234 a +18 546 a +17
T5 203 a +25 697 ab -1 218 a +10 551 a +18
T6 258 a +59 831 ab +17 245 a +237 554 a +18
CV (%)     6511       2783       3163          1843  
  • *Tratamentos seguidos das mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
  • **Obs 1: No calculo da média não considerou-se os valores obtidos pela catação
  • ***Obs 2: Na 4ª safra ocorreu déficit hídrico elevado (2010/2011)

De posse dos dados concluiu-se que:

1º) Todos os tratamentos com a palha de café foram de 16 a 18% mais produtivos que a adubação mineral exclusiva demonstrando a viabilidade técnica da substituição do NPKS mineral por orgânico contido na palha de café. 

2º) Recomenda-se a aplicação de 5 t ha-1 de palha de café na formação do cafeeiro pois apresentou boa média de produtividade nas 6 safras avaliadas (544 sacas de café beneficiado por hectare) e por possibilitar a redução de 21 t ha-1 de calcário 014 t ha-1 de Yoorim Master IIS 13 t ha-1 de uréia 15 t ha-1 de sulfato de amônio 12 t ha-1 de cloreto de potássio e 04 t ha-1 de MAP.

               Em um segundo ensaio realizado em lavoura adulta instalado em Araguari MG testou-se os mesmo tratamentos exceto pela testemunha. A tabela 3 revela a quantidade de insumos que tiveram redução em função da utilização da palha de café.

Tabela 3. Discriminação dos insumos utilizados na adubação dos cafeeiros de 0 a 78 meses de condução.

Tratamentos Doses (kg ha-1)
Palha de Café Uréia Redução (%) S. Amônio Redução (%) MAP Redução (%) Cloreto de Potássio Redução (%)
 1- Mineral 0 710 0 500 0 300 0 630 0
 2- Palha 25 t/ha 2.500 695 -4 450 -20 286 -5 498 -22
 3- Palha 50 t/ha 5.000 681 -5 300 -40 279 -7 368 -42
 4- Palha 100 t/há 10.000 588 -18 200 -80 244 -19 105 -83
 5- Palha 200 t/ha 20.000 466 -34 0 -100 188 -37 0 -100

Na tabela 1 verificamos que ao longo dos quatro anos de execução do experimento a utilização de palha de café na adubação do cafeeiro permitiu reduções de até 4495 kg de N 144 kg de P2O5 378 kg de K2O e 130 kg de S por hectare. Verificou-se a possibilidade nas condições do ensaio em reduzir a utilização de 4 a 34% da ureia 20 a 100% do sulfato de amônio de 5 a 37% o MAP e de 22 a 100% o cloreto de potássio.

A substituição parcial da adubação mineral pela palha de café apresentou valores de produtividade sem diferença estatística significativa em relação ao tratamento que utilizou adubação exclusivamente mineral nos dois primeiros anos de condução. Na terceira safra observou-se queda na produtividade no tratamento que utilizou a dose máxima de palha de café (20 t ha-1) provavelmente por esta fonte de matéria orgânica apresentar valor da relação C/N elevada o que limita a o fornecimento de N. Na quarta safra não verificou-se diferenças estatísticas. Na média do quadriênio verificamos que o melhor tratamento estudado foi o que utilizou dose de 50 ton ha-1 de palha de café com acréscimo de produtividade de 20% em relação à T1.

Tabela 4. Produção do cafeeiro nas safras de 2010 2011 2012 2013 e média do triênio em função das adubações.

Tratamentos Produtividade (Sacas de café beneficiadas ha-1)
(2010) (2011) (2012) (2013) Média R%
1-Adubação Mineral (AMT) 479 a 199 a 463 ab 342 a 371 ab 100
2- (25PC+AMR1) 408 a 255 a 481 ab 432 a 394 ab +6
3- (50PC+AMR2) 350 a 323 a 580 a 535 a 447 a +20
4- (100PC+AMR3) 339 a 346 a 542 a 493 a 437 ab +18
5- (200PC+AMR4) 331 a 236 a 322 b 428 a 329 b -12
 CV% (Tukey 5%) 3011 4150 1716 196 2736

* Tratamentos seguidos das mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Nos dois experimentos pode-se definir a dose adequada de palha de café sendo 25 a 50 t/ha no plantio e de 50 t/ha em lavouras adultas. Além desses fizemos outros experimentos associando a palha de café com estercos de galinha e de curral bem como os estercos utilizados isoladamente sempre evidenciando as boas produtividades promovidas pela associação da adubação mineral com a orgânica.

               Ultimamente com o aumento na utilização do recolhimento mecanizado o material vegetal presente nas lavouras (palha mais folhas e etc) é removido debaixo da saia dos cafeeiros para o centro da rua. Na maioria dos produtores não há o retorno deste material para a saia dos cafeeiros o que é um desperdício de nutrientes. Alguns produtores tem retornado este material para sob a saia dos cafeeiros e verificado efeitos benéficos. O efeito do retorno do chamado “cisco” pode ser benéfico e até elevar a produtividade do cafeeiro.

Neste terceiro trabalho também instalado em Araguari MG temos a associação da adubação organomineral com a prática da subsolagem e a volta do “cisco” com resultados bastante interessantes. A subsolagem prática comum e necessária na cafeicultura é realizada de dois em dois anos com duas hastes após a safra alta. Além de romper a camada compactada esta prática pode auxiliar na “mistura” e homogeneização do solo com a material orgânica.

Pelos resultados da 1ª safra não ocorreram diferenças significativas. Na segunda safra houveram diferenças com superioridade dos tratamentos 5 e 8 respectivamente subsolagem (2 hastes) mais 50 t ha-1 de palha de café mais volta do cisco e subsolagem com volta do cisco enterrando posteriormente. O aumento da produtividade foi de 46% para as melhores técnicas utilizadas (Tabela 4).

Tabela 4. Produtividade do cafeeiro nas safras 2014. 2015 e média das duas safras em função dos tratamentos estudados.

Tratamentos 2014 2015 Média
Sacas de café ben. ha-1
T1 – Sem subsolar e sem voltar o cisco 512 a 173 b 342 b
T2 – Sem subsolar e voltar o cisco 643 a 219 b 430 ab
T3 – Subsolar sem voltar o cisco 603 a 275 ab 439 ab
T4 – Subsolar e voltar o cisco 562 a 271 ab 416 ab
T5 – Subsolar voltar o cisco e adicionar 50 t/ha de palha de café 652 a 355 a 503 a
T6 – Subsolar sem voltar o cisco e adicionar 50 t/ha de palha de café 605 a 284 ab 444 ab
T7 – Sem subsolar sem voltar o cisco e adicionar palha de café (50 t ha-1) 566 a 217 b 391 ab
T8 – Subsolar voltar o cisco e enterrar (com grade leve) 630 a 353 a 491 a
T9 – Subsolar sem voltar o cisco e adicionar palha de café (50 t ha-1) e enterrar 581 a 237 ab 409 ab
T10 – Sem subsolar sem voltar o cisco e adicionar palha de café (50 t ha-1) e enterrar 621 a 296 ab 459 ab
CV 194 2034 1998

*Médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem de si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.

Se considerarmos somente o cisco o comportamento foi similar a aplicação do cisco mais a palha de café isoladamente. O cisco e a palha isolados aumentaram a produtividade em 60 sacas de café ben. ha-1 e a subsolagem 100 sacas de café ben. ha-1 neste primeiro biênio (Tabela 5).

Tabela 5. Produtividade do cafeeiro nas em função dos principais fatores estudados.

Tratamentos Produtividade Variação da produtividade em relação à testemunha
Sacas de café ben. ha-1
Média da subsolagem 4502 1082
Média da palha de café 4050 62
Média do cisco 4110 69
Testemunha 3420 -

*Médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem de si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.

Pode-se concluir que:

               1 - A prática da subsolagem com palha de café e o retorno do cisco ou a subsolagem voltando o cisco e enterrando-o aumenta a produtividade de forma significativa.

Diante do exposto nos três trabalhos aqui apresentados deve-se sempre que possível utilizar-se das fontes orgânicas presentes ou não na fazenda buscando o equilíbrio nutricional. Quanto ao manejo sempre deve-se retornar o material vegetal para a linha dos cafeeiros para que as plantas se beneficiem dele além de ser uma operação relativamente barata.

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