Santinato & Santinato Cafés
  • 01/02/2020

Matéria sobre Cal dolomítica

  • Felipe Santinato
  • Roberto Santinato
  • Reginaldo Oliveira Silva

A calagem é fundamental para a produção do cafeeiro. Possui várias funções como fornecer Ca e Mg nas quantidades adequadas e proporções convenientes neutralização dos ions H+ e elevação do pH. Esta operação deve ser realizada com base na análise de solo buscando elevar o índice de saturação de bases (V%) para 60%. Quando o solo encontra-se com este V% adequado ocorre o melhor aproveitamento dos macro e micronutrientes já que com ele haverão poucas reações antagônicas. A figura abaixo compreende os resultados de seis experimentos realizados de 1974 a 1988 evidenciando a superioridade dos tratamentos que fizeram a calagem.

Apesar de tantos benefícios a calagem é uma operação “barata” quando comparada à outras adubações como nitrogenada potássica e fosfatada. O custo do insumo básico calcário é pequeno mesmo quando são requeridas doses de até 40 t ha-1. Talvez por isso muitas vezes no campo nos deparamos com aplicações mal feitas em decorrência de derivas e más regulagens nas calcareadoras.

Para a correção do solo na cafeicultura comumente utiliza-se o calcário dolomítico PRNT = 60 a 80% 25 a 30% de CaO e 15 a 20% de MgO para atingir o V pretendido de 60%. Na década de oitenta com o surgimento do calcário dolomítico calcinado utilizava-se em torno de 30 a 40% da dose do dolomítico comum (SANTINATO et al. 1984). A questão de 8 a 10 anos surgiu no mercado a cal magnesiana (50 a 60% de CaO 5 a 10% de MgO e PRNT de 150 a 170%) utilizada via Pivô em fertirrigação com 25% da dose do dolomítico e complementada com sulfato de magnésio afim de equilibrar o fornecimento de Ca e Mg (3/:5) (SANTINATO et al. 1998).

Recentemente temos no mercado vários tipos de Cal dolomítica com PRNT elevado (100 a 180%) CaO de 50 a 60% e MgO de 25 a 30% com reação mais rápida e eficaz. Sem bases técnicas/científicas existem recomendações que reduzem até a metade da dose de referencia quando opta-se por tais fontes.

               Para verificar a viabilidade da utilização destas fontes a possibilidade de redução de doses e os efeitos que tais promovem no cafeeiro instalou-se dois experimentos:

Experimento 1

               O trabalho foi instalado no Campo Experimental Izidoro Bronzi ACA Araguari MG em lavoura da Cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 espaçada em 37 x 07 m solo LVA de Cerrado com 11/12 anos de idade. Estudou-se os tratamentos: Testemunha (T1); Cal dolomítico (T2); Geox 100% (T3); Geox 50% da dose (T4); Geox 25% da dose (T5); Geox Super 100% da dose (T6); Geox Super 50% da dose (T7) e Geox SUper 25% da dose (T8). Os tratamentos foram delineados em blocos ao acaso em parcelas de 30 plantas sendo úteis as seis centrais. O Geox possui PRNT de 180% e o GEOX Super 105%.

               Avaliou-se os parâmetros de fertilidade do solo teor foliar e produtividade. Os dados obtidos foram submetidos à ANOVA e quando procedente ao teste de Tukey à 5% de probabilidade.

Resultados e discussão:

               Todos os tratamentos foram superiores à testemunha de forma significativa com aumento de 22 a 52% na produtividade. Com destaque para o Geox na dose total e reduzida em 50% e o Geox Super nas mesmas doses. As reduções de até 75% da dose (Geox 25% e Geox Super 25%) obtiveram produtividade menores não sendo indicadas.

Tabela 1. Produtividade do cafeeiro em função dos tratamentos estudados - 1ª safra após a aplicação dos tratamentos.

Tratamentos Produtividade (sacas de café ben. ha-1) R %
T1 – Testemunha 363 c 100
T2 – Cal dolomítica 552 a +52
T3 – Geox PRNT 180% (100% da dose) 543 a +49
T4 – Geox PRNT 180% (50% da dose) 518 a +43
T5 – Geox PRNT 180% (25% da dose) 440 ab +22
T6 – Geox Super PRNT 105% (100% da dose) 541 a +49
T7 – Geox Super PRNT 105% (50% da dose) 524 a +44
T8 – Geox Super PRNT 105% (25% da dose) 478 a +32
CV (%) 1954 -

*Médias seguidas das mesmas letras não diferem de si nas colunas pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.

Na análise de solo a correção foi realizada com todos os tratamentos com V de 377 a 547 em relação à testemunha de (243%). Quanto ao Ca e Mg todos os tratamentos elevaram os teores no solo e não tiveram correlação na folha. O alumínio sofreu redução ficando à níveis próximos do não tóxico (<03 mmolc dm-3) (Tabela 2).

Tabela 2. Parâmetros de fertilidade do solo e teores foliares em função dos tratamentos estudados.

Tratamentos Solo Folha
V% pH Ca Mg Al Ca Mg
Cacl2 Mmolc dm-3 g kg-1
T1 – Testemunha 243 48 13 07 04 199 62
T2 – Cal dolomítica 440 52 22 14 00 196 65
T3 – Geox PRNT 180% (100% da dose) 497 50 17 09 05 199 66
T4 – Geox PRNT 180% (50% da dose) 547 57 18 20 00 187 66
T5 – Geox PRNT 180% (25% da dose) 390 49 15 13 04 192 73
T6 – Geox Super PRNT 105% (100% da dose) 367 52 19 13 01 203 84
T7 – Geox Super PRNT 105% (50% da dose) 377 51 18 11 01 208 70
T8 – Geox Super PRNT 105% (25% da dose) 377 50 20 09 02 185 60

Pode-se concluir que:

  1. O Geox e o Geox Super pode substituir o calcário dolomítico.
  2. O Geox e o Geox Super podem ser utilizados com 50% da dose.
  3. Os corretivos dolomítico Geox e Geox Super elevam os teores de Ca Mg reduz o Al e elevam o V%.

Experimento 2

O experimento foi realizado no Campo Experimental Izidoro Bronzi ACA Araguari MG em lavoura de café da Cultivar Catuaí Vermelho IAC 51 plantada no espaçamento de 37 x 07 m em solo LVA de Cerrado cuja a análise revelou a necessidade de fornecer por meio da calagem 34 t ha-1 de calcário. A lavoura de 11 anos de idade é irrigada por gotejamento.

               Os tratamentos estudados foram: Testemunha onde não fez-se a calagem (T1); Calcário dolomítico (T2); Calcário Oxyfertil (T3); Calcário Oxyfertil com redução de 25% da dose (T4); Calcário Oxyfertil com redução de 50% da dose (T5); Calcário Oxyfertil com redução de 75% da dose (T6). O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com parcelas de 30 plantas sendo úteis as seis centrais.

               Avaliou-se os parâmetros de fertilidade do solo e as produtividades nas safras de 2013 2014 e 2015. Os dados foram submetidos à ANOVA e quando procedente ao teste de Tukey ambos à 5% de probabilidade.

               Nos segundo e terceiro anos de condução as doses de calcário empregadas foram de 18 e 21 t ha-1 ajustadas devidamente a cada tratamento.

Resultados e conclusões:

               Já na primeira a prática da calagem elevou a produtividade do cafeeiro em relação à testemunha. As maiores produtividades foram obtidas com o calcário dolomítico e o Oxyfertil em sua dose 100%. A redução das doses de Oxyfertil obtiveram produtividade inferior às doses de 100% de calcário. Na segunda safra todos os tratamentos com Oxyfertil foram superiores ao dolomítico notadamente quando reduziu-se as doses. Na terceira safra as maiores produtividades foram obtidas pelas dose 100 e 75% de Oxyfertil. A redução de 50% da dose igualou-se em produtividade com o calcário dolomítico. A redução de 75% da dose do Oxyfertil ou seja 25% da dose recomendada reduziu a produtividade do cafeeiro acentuadamente (Tabela 1).

               Na média do triênio as doses de Oxyfertil sem redução e redução de 25 e 50% foram superiores aos demais tratamentos. Embora sem diferença significativa as reduções de 50 e 75% ficaram similares ao dolomítico e todos resultaram em aumento da produtividade de 78 a 106% (Tabela 1).

Tabela 1. Produtividade do cafeeiro em 2013 2014 e 2015 bem como a média do triênio em função dos tratamentos estudados.

Tratamentos Produtividade do cafeeiro (sacas de café ben. ha-1)
2013 2014 2015 Média do triênio
T1 – Testemunha 314 c 338 c 118 c 257 b
T2 – Calcário dolomítico 683 a 463 ab 229 b 458 a
T3 – Oxyfertil 100% 662 a 606 ab 324 a 530 a
T4 – Oxyfertil 75% 464 bc 689 a 311 a 487 a
T5 – Oxyfertil 50% 616 ab 691 a 226 b 511 a
T6- Oxyfertil 25% 560 ab 675 a 148 c 461 a
CV (%) 1351 2066 1331 2664

*Médias seguidas das mesmas letras não diferem de si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.

As calagens resultaram em correção adequado do solo com elevação nos teores de Ca e Mg. Para o Cálcio o maior valor foi obtido com o calcáro dolomítico e na redução do alumínio tóxico os valores considerados não tóxico (<03 mmolc dm-3) foram obtidos com o Oxyfertil na dose total e reduzido em até 25% (Tabela 2).

Tabela 2. Parâmetros de fertilidade do solo no cafeeiro em 2013 2014 e 2015 bem como a média do triênio em função dos tratamentos estudados.

Tratamentos pH Ca Mg Al
Cacl2 mmolc dm-3
T1 – Testemunha 44 09 02 10
T2 – Calcário dolomítico 49 29 07 04
T3 – Oxyfertil 100% 51 18 10 02
T4 – Oxyfertil 75% 46 16 06 03
T5 – Oxyfertil 50% 46 15 06 05
T6- Oxyfertil 25% 49 10 06 05
CV (%) - - - -

*Médias seguidas das mesmas letras não diferem de si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.

Pode-se concluir que:

  1. O Oxyfertil pode substituir o calcário dolomítico.
  2. Pode-se reduzir a dose de calcário em até 50% utilizando o Oxyfertil.

Considerações finais:

               Os dois produtos podem ser utilizados com a finalidade de proceder a calagem inclusive reduzindo a dose em até 50%. A rápida reação de ambos torna o V% adequado em menor tempo ou seja permite que o solo fique apto à fornecer os nutrientes adequadamente para as plantas mais cedo dessa forma o metabolismo crescimento e  consequentemente a produção serão maiores pois tiveram maior tempo de ocorrência.

Compartilhe:

@ Todos os Direitos Reservados 2020, Santinato & Santinato Cafés