Santinato & Santinato Cafés
  • 01/02/2020

Cresce a incidência da doença Mancha de Phoma na cultura do café arábica

Roberto Santinato

1 – Prejuízos: O fungo Phoma sp tarda costaricence e outras estirpes incidem em praticamente toda a parte aérea do cafeeiro como ramos novos folhas inflorescências flores e frutos novos.

Nos últimos anos a doença vem em uma crescente geométrica em praticamente todas as regiões de café arábica adaptando-se a uma gama enorme de variações climáticas topográficas e culturais causando significativos prejuízos pois afeta diretamente a produção.

Quando ocorre no início do período de inverno até o pós colheita as perdas chegam a 50% e as infecções estão associadas a desfolha fisiológica (estresse) físicas (ferimentos oriundos da colheita) e também causados por pragas e outras doenças como ferrugem e a cercosporiose nas folhas. Por outro lado quando a ocorrência se inicia na primavera e se prolonga até o início do verão nas fases de pré e pós florada até a fase de chumbinho dos frutos as perdas alcançam até 100% principalmente quando ocorrem simultaneamente alguns fatores altamente favoráveis como: frentes frias que abaixam a temperatura e chuvas finas e intermitentes.

2 – Condições propicias à doença: Ao final da década dos anos 70 Mansk e Matiello relataram os sintomas e prejuízos da doença em lavouras do município de Santa Tereza – ES. Nessa época acreditava-se que a mesma estaria restrita à áreas de altitude superior a 1.000 metros e em lavouras de face frontal sul esbatidas por ventos frios além e viveiros situados em baixadas úmidas com acúmulo de ar frio.

Hoje sua ocorrência é observada praticamente em todas as regiões produtoras de café arábica causando prejuízos que variam de intensidade dependendo das seguintes condições:

2.1 – Topografia

  • Altitudes superiores a 800 m
  • Planaltos e chapadas com acúmulo de ar frio (abaciadas)

2.2 – Clima

  • Temperaturas baixas inferiores à 17°C
  • Umidade relativa alta maior que 60%
  • Ventos frios Sul e Sudeste

2.3 – Culturais

  • Lavouras fechadas aumento de umidade e sombreamento
  • Lavouras adensadas elevada umidade
  • Face de plantio Sul e Sudeste “faces molhadas”.
  • Nutrição desequilibrada de nitrogênio em relação ao potássio com faixas de 25 a 40 % de N e 1 a 15 % de K.
  • Poda drástica de esqueletamento ramos novos mais sensíveis
  • Estresse hídrico prolongado plantas com ramos novos mais frágeis.
  • Colheita com elevada desfolha e ferimentos nos ramos.
  • Pragas como lagarta mede palmo e outras que causam ferimentos foliares
  • Doenças como ferrugem e cercosporiose que causam desfolhas nos internódios do ramo (3ºa 5º pares)

De uma forma geral a ocorrência mais crítica se dá no mês de maio até novembro com a entrada dos ventos frios e chuvas.

3 – Sintomas: Os sintomas são variáveis em função da parte vegetativa atacada. Assim temos:

3.1 – Nas folhas: ocorrência maior do 1º ao 3º pares (primeiros) causando retorcimento e deformação com manchas escuras quase negras.

3.2 – Nos ramos: quando as folhas do 1º e 2 º pares são atacadas as pontas dos ramos ficam negras e secam. Já quando a doença infecciona ramos desfolhados causam manchas escuras nas inserções das folhas do 3º e 5º pares com maior frequência.

3.3 – Nas inflorescências e flores: Infeccionam o pedúnculo ou base das mesmas com manchas escuras que promovem queda acentuada.

3.4 – Nos frutos: Na fase de pré e de chumbinho a doença infeciona o pedúnculo e os frutos causando sua mumificação. Por vezes a doença pode atacar também frutos da fase verde aquosa.

            Também deve-se atentar que a phoma pode estar associada a outros fungos e bactérias como ascochyta e mancha aureolada além da possibilidade de surgimento da antracnose exigindo controle associado.

4 – Manejo da doença – Preventivo: Como o período de incubação e infecção é curto cerca de 24 a 48 horas ocorre uma dificuldade de se manejar a doença por eio de avaliação por amostragem do grau de infecção. Tal fato exige o controle preventivo. Em primeiro lugar deve-se dentro do possível diminuir fatores favoráveis a doença com o uso de quebra-ventos e podas de arejamento da lavoura. A tomada de decisão do controle químico deve levar em consideração o tipo de área que esta se tratando:

Em áreas de inverno frio e chuvoso (onde a doença é mais crítica) deve-se proceder três aplicações de fungicidas. A primeira aplicação deve ser realizada em abril/maio objetivando a redução do inóculo e a seca de ramos desfolhas e etc. As outras duas devem ser feitas em agosto/setembro na pré florada e em outubro/novembro na pós florada evitando queda de flores e mumificação dos frutos em sua fase inicial. Em regiões com média infecção cuja a doença é crítica na primavera e no início do verão recomenda-se duas aplicações em agosto/setembro e outubro/novembro. Finalmente em áreas “quentes” de baixa infecção normalmente uma aplicação na pós florada tem se mostrado suficiente.

Quando a incidência de phoma esta associada a mancha aureolada e outros fungos formando um complexo de doenças fúngicas e bacterioses deve-se associar as aplicações um bactericida específico e uma fonte de hidróxido de cobre.

Sempre que sob o aspecto nutricional existe a deficiência de boro por vezes induzida pelo período de seca e ou frio pode-se utilizar em associação aos fungicidas específicos uma fonte de cálcio mais boro como os tradicionais Cab2 de preferência com maior concentração de boro.

5 – Quando o mal já esta na lavoura: Quando a doença já se encontra na lavoura o produtor deve instalar quebra-ventos e utilizar podas de arejamento como decote reduzindo a altura das plantas permitindo maior entrada de luminosidade e calor no interior da rua do café desfavorecendo a ocorrência da doença.

Como a doença já se encontra na lavoura em qualquer época do ano é necessário a redução do inóculo objetivando um equilíbrio feito por meio da pulverização de fungidas específicos imediatamente.

  6 – Opções de produtos: Dos fungicidas comerciais para controle de phoma existentes atualmente no mercado destacam-se os dos grupos que contem boscalid (252 g kg-1) tebuconazole (200 g L-1) e iprodiona (500 g L-1) os dois últimos em associação. Mais recentemente a adição de estrobirulina a estes fungicidas tem demonstrado maior eficiência inclusive com vigor nas plantas: pyraclostrobina mais boscalid e trifloxystrobyna ao tebuconazole.

            As doses de boscalid (Cantus) devem ser de 180 g ha-1 por aplicação e quando associada a pyraclostrobina adiciona-se 400 ml ha-1 de Comet.

Para o tebuconazole (Folicur e outros) a dose é de 05 L ha-1 associada ao iprodiona (Rovral) também com 05 L ha-1.

7 – Considerações:

            Em cerca de 86 experimentos realizado nas diferentes regiões cafeeiras o controle por esses produtos é observado com alta eficiência desde que aplicado no momento correto.

            Gráfico adaptado abaixo: Trabalho de Almeida & Reis (2011) publicado no 38º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras Caxambú-MG.

Figura 1. Produtividade porcentagem de folhas atacadas e número de frutos por ramo em função dos tratamentos estudados. São Sebastião do Paraíso-MG.

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