1 – Panorama fitossanitário do ano agrícola de 2014/2015:
As pragas e doenças que atacam o cafeeiro são responsáveis pela redução do desenvolvimento vegetativo e consequentemente da produtividade. Elas afetam todas as partes do cafeeiro da raiz aos frutos de forma específica a cada praga ou doença.
Neste ano de 2014/2015 com condições climáticas extremamente secas precipitações de até 60% inferiores à da média histórica e com a elevação de 20 a 35 ºC (média dia e noite) sem dúvida a Cercosporiose foi a doença que ocorreu mais acentuadamente promovendo os maiores prejuízos notadamente na região do Cerrado. O prejuízo que esta doença causa tanto nas folhas quanto nos frutos aliada a praga do Bicho mineiro esta com infestação elevada praticamente o ano todo foram os grandes problemas fitossanitários enfrentados pelo cafeicultor.
Para as pragas além do Bicho mineiro a Broca do café é um grande problema em função da ausência de produtos específicos na safra passada (2013/2014) ocorrendo em alta infestação. Devido ao atraso das chuvas e consequentemente ao retardamento do processo de granação dos frutos tal praga vem ocorrendo tardiamente na maioria das regiões cafeeiras por isso o produtor deve ficar em alerta.
Nas regiões de maiores altitudes independentemente da temperatura mesmo em condições climáticas desfavoráveis o complexo Phoma/ascochyta causou elevados prejuízos na pós florada e na fase de chumbinho e em alguns casos aparecendo também tardiamente.
A Mancha aureolada ficou restrita a focos ocasionais enquanto que o Ácaro plano (vetor da Leprose do cafeeiro) apareceu com evidencia em todas as regiões. O Ácaro vermelho por sua vez teve sua ocorrência mais dependente dos desequilíbrios decorrentes do uso dos nicotinoides.
A ferrugem do cafeeiro principal doença no Brasil não tem aparecido com tanta frequência em algumas regiões. Mas não devemos nos enganar com a entrada das chuvas de fevereiro e provavelmente seu prolongamento em março a velha ferrugem deve fazer seus tradicionais estragos nos meses de junho e julho ocorrendo de forma bem tardia.
2 – Controle das pragas:
Para o bicho mineiro além das condições climáticas bem favoráveis a sua proliferação (seca e temperaturas elevadas) teve o agravante decorrente do uso extremo de inseticidas não específicos no ano anterior visando a Broca do café. Isto provocou maiores obstáculos para seu controle pois ocorreram elevadas interferências em seus inimigos naturais.
Os prejuízos desta praga são elevados com alta desfolha atual prejudicando a safra em andamento e certamente a próxima. Estes prejuízos podem vir a ser de 30 a 80% na produtividade no ano seguinte.
Portanto é preciso realizar seu controle e as melhores opções ainda são a alternância de inseticidas fisiológicos como Nomolt Rimon e similares com outros inseticidas como o Altacor todos em doses de bula. Nunca deve-se proceder a repetição do mesmo tratamento em duas safras consecutivas. Em casos elevada incidência antes da aplicação do Altacor é aconselhável o uso de Cartap associado à Lannate ou similar para reduzir ao máximo a população de adultos e ovos otimizando a eficácia do Altacor.
Nas lavouras em que o produtor usará ou já usou o produto Benevia o controle da praga foi altamente eficiente. No entanto tal prática só é válida no estado de Minas Gerais devido à restrição imposta pelos órgãos competentes.
O controle via solo com produtos contendo o tiametoxam e imidacloprid é aconselhável exceto nas lavouras de sequeiro aonde a ocorrência de chuvas foi baixa. Tais produtos necessitam de elevada umidade no solo para serem absorvidos pelas plantas. Em lavouras irrigadas o controle é bastante eficiente.
Com relação ao controle cultural do Bicho mineiro recomenda-se “soprar” as folhas que contenham casulos presentes sob a saia dos cafeeiros para o centro das ruas procedendo a trincha posteriormente. Outra prática cultural de fácil aplicação é a respeito do controle do mato. Deve-se aplicar a dose cheia do herbicida somente nas duas faixas do cafeeiro uma em cada linha do café (60 a 80 cm de distância do tronco) e aplicar ¼ ou 1/3 da dose no centro da rua não eliminando o mato mantendo-o com a finalidade dentre outras de preservar inimigos naturais. Tal prática é denominade de manter o “bigode” no centro da rua do café e também pode ser realizada roçando o centro e aplicando herbicida nas faixas. No entanto devemos lembrar que as práticas culturais auxiliam no controle reduzindo a pressão mas não eliminam o problema.
Biologicamente não se tem controle satisfatório de tal praga utilizando produtos da linha biológica. A prática do bigode auxilia a manutenção dos inimigos naturais porém é um controle apenas adicional.
Em áreas de elevadas pressões é necessário utilizar produtos específicos como Omite Ortus Talento e similares em doses de bula.
Em referência a broca do café os prejuízos são imensos sendo eles: a queda de frutos e perda de renda (em decorrência das galerias) além de afetar no preço pago do café. A principal consequência desta praga é a redução de 10 a 20% do valor da saca em lotes brocados além da não aceitação do café em mercados específicos de qualidade como os da Europa por exemplo.
Dessa forma seu controle é extremamente necessário. Em Minas Gerais com o uso do Benevia já aplicado em anos anteriores (áreas experimentais) notou-se infestações baixas da praga. Em outras áreas o controle realizado com apenas uma aplicação em fevereiro foi possível em decorrência da baixa umidade relativa do ar fator condicional ao aparecimento da praga. Outras opções de controle notadamente para lavouras de baixa produção são o uso de Abamectina associado ao Clorpirifós ou ainda associado com Altacor.
O cafeeiro adulto sobrevive às infestações de nematoide m. exígua no entanto apresenta grande redução na produtividade redução do porte das plantas e depauperamento da lavoura. Portanto este deve ser controlado utilizando produtos químicos ou biológicos como Rugby Counter Profix Max sendo o último biológico. Quando se planta lavouras novas em áreas com a presença dos nematoides (áreas de café velho) as plantas se desenvolvem pouco ocorre grande índice de replantio e lavouras pouco produtivas de forma que neste caso o controle é mais que obrigatório.
Para esta situação além do uso da matéria orgânica em elevadas doses (50 t ha-1 ou mais) tem-se obtido bons resultados com a aplicação do produto biológico Profix Max aplicado logo após o pegamento das mudas ou até mesmo no sulco de plantio.
Com relação ao manejo tem se o plantio de Crotalária spectabilis em área total após a renovação da lavoura mantendo o solo com ela por 11 meses ou ainda o plantio da mesma na entrelinha do cafeeiro. Aliado a isto deve-se ter a cautela com relação a compra das mudas aluguel de maquinário e escorrimento de água de um talhão para o outro pois os nematoides se espalham com imensa facilidade. A seguir têm-se um trabalho evidenciando o controle do nematoide m. exígua utilizando produtos biológicos.
Tabela 1. População de nematoides no solo raízes ovos e total no cafeeiro em função dos tratamentos estudados Araxá MG (2012). Fonte: Santinato et al. 39º CBPC 2013.
Tratamentos | População de Meloidogyne exígua | Volume das raízes (ml) | ||||
Período de avaliação: | Solo | Raízes | Ovos/raíz | Total | ||
1 -Testemunha | 122 | 10035 | 985 | 1224 (100) | 055 c | |
2 – Rughby (30 L/ha) | 38 | 3785 | 00 | 4165 (-66) | 097 abc | |
3 – Profix Max (1 kg/ha) | 38 | 2910 | 230 | 4517 (-64) | 075 bc | |
4 - Profix Max (2 kg/ha) | 32 | 2385 | 305 | 3010 (-76) | 125 a | |
5 - Profix Max (4 kg/ha) | 16 | 1385 | 80 | 1625 (-87) | 135 a | |
6 - Profix Max (8 kg/ha) | 18 | 980 | 25 | 1185 (-96) | 117 ab | |
CV% | 3238 |
*Valores seguidos das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey à 5% de probabilidade.
Em referencia ao controle através de variedades resistentes existem alguns com resistência quase que total (tolerantes) como alguns Catucaís (785-15) e outros como o IPR 100 e etc. O trabalho a seguir reúne tratamentos biológico químico e cultural para o controle de nematoide m. paranaensis em vaso.
Figura 1. População de nematoide Meloidogyne paranaensis no solo150 dias após a implantação Rio Paranaíba MG. Fonte: Santinato & Santinato 40º CPBC 2014.
3 – Controle das doenças:
Phoma/Ascochyta e Mancha aureolada:
Para o complexo Phoma/Ascochyta embora as condições climáticas não favoráveis à doença (seca) ocorrem prejuízos com velocidade extremamente rápida. Para este complexo é necessário o controle preventivo utilizando fungicidas específicos como Cantus Nativo Folicur associado a Rovral Azimute e etc. Em regiões mais frias com alta nebulosidade como Capelinha Serra do Salitre São Gotardo e etc. são necessárias até quatro aplicações para o controle eficiente (pré e pós colheita pós florada e fase de chumbinho). Nas regiões mais quentes como Araguari Paracatu e etc. em alguns casos apenas uma aplicação controla o complexo. Em regiões de temperaturas intermediárias duas aplicações são necessárias na pré e pós florada.
Neste ano ficou bem evidenciado que para a ocorrência do complexo basta uma pequena alteração na temperatura noturna (17/18ºC) aliada à chuvas para que os prejuízos ocorram. Este complexo pode reduzir até 100% a produtividade do cafeeiro atacando folhas novas secando ramos e abortando flores e chumbinhos. Sem dúvida é bastante difícil seu controle satisfatório. Por vezes ocorre juntamente com a Phoma/Ascochyta a Mancha aureolada que também seca ramos destrói ponteiros e reduz a produtividade com perdas de 20 a 30%.
A Mancha aureolada ocorre especialmente em áreas com ventos frios e em lavouras com ferimento de varias procedências como por exemplo oriundos da colheita chuva de pedra lagartas e etc. Neste caso alia-se ao controle da Phoma/Ascochyta aplicações de cloro estabilizado (produto comercial Dioxi Plus) ou ainda o produto biológico Duo. A aplicação de cálcio e boro nestas pulverizações auxilia o controle além de promover o equilíbrio nutricional.
Ferrugem e Cercosporiose:
Para a ferrugem e cercosporiose o controle pode ser monitorado e normalmente é iniciado em dezembro com a associação de triazois e estrobirulinas existentes nos produtos Priori Xtra Aproach Prima Sphere Max e Opera Envoy Guapo e outros. Tais produtos devem ter as aplicações repetidas por mais duas vezes com intervalos de 45 a 60 dias.
Para reforçar o controle e associar às aplicações nutricionais foliares recomenda-se fertilizantes foliares completos que contenham cobre (6 a 10%) ou sais associados à hidróxidos de cobre como Kocide Tutor Glucamato de cobre Supera e etc. Em lavouras com carga elevada a mauito elevada ou em regiões quentes mesmo que em carga baixa deve-se associar à tais pulverizações um reforço para o controle da cercoporiose utilizando a estrobirulinas como o Comet protegendo as folhas e os frutos.
É sempre importante lembrarmos que a ferrugem além de ocasionar prejuízo na safra em andamento com queda de frutos desfolha e perda de renda causa perdas de produtividade de até 50% na safra seguinte.
Por outro lado a cercosporiose nas folhas trava o crescimento da planta e causa desfolha. Quando ocorre nos frutos além da perda de renda dos mesmos promove sua queda prematura e impedem o processo de descascamento para a produção do café tipo cereja descascado (CD).
Por fim o cafeicultor não pode estar atento somente a fitossanidade devendo rever os trator nutricionais notadamente quanto ao equilíbrio nutricional pois as pragas e doenças causam enormes prejuízos. Estes são tanto maiores quanto mais deficientes estiverem as lavouras.
O cafeicultor deve se atentar para o controle químico monitorando e praticando a rotatividade de ativos afim de evitar possíveis resistências e consequentemente perda de eficiência dos produtos que temos no mercado. Além de utilizar controle biológico em alguns casos e sempre que possível realizar as práticas culturais que minimizam a incidência de pragas e doenças.
O Boletim Técnico da Associação dos Cafeicultores de Araguari – MG reúne grande quantidade de trabalhos relacionados ao controle de pragas e doenças do cafeeiro testando os principais produtos presentes no mercado. Mais trabalhos podem ser obtidos nos anais do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras.
O grande segredo do controle fitossanitário é o monitoramento das pragas e doenças que revela o momento exato do inicio do controle bem como por onde ele deve começar. Utilizando a Agricultura de Precisão foi possível determinar por onde iniciar o controle do Bicho Mineiro por exemplo (Figura 1). No exemplo a seguir recomendou-se o inicio do controle no centro do pivô para atender a demanda mais urgente no tempo correto.
Figura 1. Incidência de Bicho mineiro em pivô central e respectivas porcentagens de áreas com níveis de infestação Patos de Minas MG.