Santinato & Santinato Cafés
  • 01/02/2020

Mecanização esta presente em todas as etapas do cultivo do café

Matéria anuário do café:

  • Eng. Agro. MSc. Felipe Santinato
  • Eng. Agro. Alino Pereira Duarte
  • Prof. Dr. Rouverson Pereira da Silva
  • Eng. Agro. Roberto Santinato

            O sucesso do setor agrícola exige a modernização das práticas culturais e um dos pilares desta modernização é a mecanização. Na cultura do café há três pilares que auxiliam no aumento da produtividade e na redução do custo de produção sendo eles: irrigação mecanização e agricultura de precisão.

            A mecanização pode ser utilizada em praticamente todas as operações de manejo da cultura. As únicas exceções são as podas por desbrota tanto em lavoura adulta quanto em lavoura recém recepada.

            A mecanização esta presente em todas as etapas do cultivo do café do preparo do solo à colheita e recolhimento mecanizado do café do chão. O fator preponderante para a mecanização é o relevo em que a lavoura esta plantada. Lavouras situadas em elevadas declividades não possibilitam a mecanização de algumas operações. Uma das operações mais afetadas pela declividade é a colheita mecanizada do café devido á altura da máquina principalmente. Com isso as regiões com maior possibilidade de expansão da mecanização são o Cerrado de Minas Gerais Goiás Bahia e São Paulo com relevos até ondulados.

            Apesar disto a evolução da indústria das colhedoras permitiu a adaptação destas para tais situações. Realizou-se no ano de 2014um experimento no município de Santo Antônio do Amparo MG em lavouras de café da cultivar Mundo Novo com altura média de 40 m espaçadas em 38 m entre linhas e 07 m entre plantas totalizando 3.759 plantas ha-1. Estudou-se a eficiência de colheita e a capacidade de campo operacional (rendimento da máquina) de uma colhedora automotriz Electron (TDI) fabricada em 2013 com 1.336 horas de uso operando nas declividades de 10; 15; 20; 25 e 30%. O experimento concluiu que há a possibilidade de colher café em declividade de até 30% sem alteração na eficiência de colheita mas com acréscimo de até 216% no tempo demandado para a colheita (SANTINATO et al. 2014).

            Além da possibilidade de utilização deste tipo de colhedora o cafeicultor deve adaptar os carreadores da fazenda facilitando as manobras das máquinas eliminar linhas de café em situações muito íngremes e em alguns casos fazer curvas de nível.

Tais medidas permitem que as operações mecanizadas (e a colheita é uma das mais dependentes da declividade) sejam totalmente realizadas em fazendas que antes eram tidas como inapropriadas para a mecanização. Estas medidas permitem a intensificação das demais operações mecanizadas no café como as pulverizações por exemplo. Em algumas regiões cafeeiras nota-se o costume de não proceder o número adequado de pulverizações para fornecimento de nutrientes nos períodos adequados como Ca e B na pré e pós florada e de defensivos.

            No entanto grande parte da cafeicultura esta presente em área montanhosas como na Zona da Mata de Minas Gerais. Nestas circunstâncias novas máquinas devem ser desenvolvidas para substituir totalmente ou parcialmente a necessidade de mão-de-obra.

            Com relação aos custos envolvidos nas operações mecanizadas e manuais na lavoura de café têm-se no quadro abaixo o custo horário das principais operações realizadas na cultura do café segundo metodologia proposta por MIALHE (1974) e adaptações para o custo das operações manuais (Tabelas 1 e 2). Evidentemente que os custo sofrem variações de região para região de lavoura para lavoura devido ao preço pago aos trabalhadores capacidade de campo operacional e gestão da propriedade.

Tabela 1. Custo horário capacidade de campo operacional custo complementar e custo total das operações mecanizadas na lavoura de café.

Operação Custo horário da operação (R$ h-1) CCO (ha h-1)* Custo complementar (R$ ha-1) Custo total por ha (R$ ha-1)
Subsolagem em área total 7708 027 000 27750
Aração em área total 6859 033 a 028 000 20577 a 24006
Gradagem em área total 5659 042 000 13582
Gradagem após subsolagem 5659 133 a 10 000 4244 a 5659
Sulcamento 5606 100 000 5606
Adubação de sulco 5849 166 737 4246
Plantio 12055 025 16660 63674
Controle do mato 5843 111 a 083 000 5258 a 7011
Adubação de cobertura 5881 166 737 4246
Pulverização 5881 166 606 4134
Subsolagem 5606 083 000 6727
Trinchagem 5723 050 000 11446
Sopramento/enleiramento 5982 042 000 14356
Colheita da planta**** 19501 053 a 026 000 37052 a 74104
Recolhimento 6858 021 000 32918
Esqueletamento mais trinchagem** 5843 042 13733 25466
Recepa (corte mais remoção de lenha) 5755 042 22340 36151
Decote mais trinchagem** 5754 083 13732 18449
Recepa total*** - 021 36073 61618
  • *CCO = Capacidade de campo operacional
  • **A trinchagem apresenta custo hora de R$ 5722 e esta sendo multiplicada por 20 h ha-1 sendo uma operação complementar à poda o valor do rendimento operacional é inerente apenas a operação da poda.
  • ***Recepa total = Esqueletamento trinchagem corte recepador e remoção da lenha.
  • ****Varia conforme a velocidade operacional no caso adotou-se 8000 e 1.6000 m h-1.

Tabela 2. Custo horário capacidade operacional de mão de obra custo das operações complementares e custo operacional total das operações manuais na cultura do café.

Operação CCOM (homem dia-1)* Custo do pessoal operacional (R$ ha-1) Custo complementar (R$ ha-1) Custo total por ha (R$ ha-1)
Adubação de plantio 1 4848 1515 6363
Plantio 17 82416 17459 99875
Controle do mato em lavoura nova 7 34906 000 34906
Adubação de cobertura em lavoura nova 1 4848 6353 11201
Adubação de cobertura em lavoura velha 1 4848 6353 11201
Pulverização em lavoura nova 05 2424 000 2424
Pulverização em lavoura adulta 2 9696 000 9696
Controle do mato em lavoura adulta 5 24240 000 24240
Esqueletamento mais trinchagem** 9 43632 25412 69044
Recepa (corte mais remoção) 1 4848 27615 32463
Recepa total*** - 48480 53027 1.05107
Decote mais trinchagem** 6 29088 13008 42096
Desbrota 6 29088 000 29088
Remoção de lenha 4 19392 000 19392
  • *CCOM = Capacidade de campo operacional da mão de obra.
  • **A trinchagem apresenta custo hora de R$ 5722 e esta sendo multiplicada por 20 h ha-1 sendo uma operação complementar à poda o valor do rendimento operacional é inerente apenas a operação da poda.
  • ***Recepa total = Esqueletamento trinchagem corte recepador e remoção da lenha.

De posse dos dados do custo horário das operações torna-se possível calcular o custo da operação por hectare e multiplicando pelo número de vezes que ela é procedida têm-se o custo total da operação.

            A Tabela 3 apresenta a comparação entre os custo das operações manuais e mecanizadas em lavoura adulta.

O custo operacional total anual das lavouras adultas foi de R$ 62820 a 1.06806 e de 1.99940 a 2.96406 para as operações mecanizadas e manuais respectivamente. Dessa forma têm-se que as operações mecanizadas foram de 6396 a 6858% mais econômicas que as operações manuais (Tabela 3)

Tabela 3. Número e custo total das operações da lavoura cafeeira adulta.

Operação Número de operações no período Custo das operações mecanizadas do período (R$ ha-1) Custo das operações manuais do período (R$ ha-1) Diferença de custo entre operações mecanizadas e manuais (R$ ha-1)
Subsolagem bienal* 00 a 05 -------------000 a 3363------------- -
Gradagem após subsolagem* 00 a 05 -------------000 a 2829------------- -
Controle do mato de lavoura adulta 4 a 6 21032 a 42066 96960 a 1.45440 54894 a 1.24408
Adubação de cobertura 4 a 6 16984 a 25476 44804 a 67206 19328 a 50222
Pulverização 6 a 8 24804 a 33072 58176 a 77568 25104 a 52764
Custo total mínimo do período - 62820 1.99940 -
Custo total máximo do período - 1.06806 2.96406 -

*Operações realizadas somente por mecanização

A Tabela 4 apresenta o detalhamento do custo das operações que envolvem a colheita manual e mecanizada. Têm-se que o custo de todas as operações que envolvem a colheita do café variam de R$ 74096 ha-1 a 2.13916 (Tabela 4). No entanto o valor mínimo seria somente para a opção de operar a colhedora uma única vez a uma velocidade operacional de 800 m h-1 sem realizar qualquer preparo da área e operações inerentes ao recolhimento do café do solo. Para este caso optou-se por operar a colhedora na menor velocidade para que a eficiência fosse máxima e quantidade de café caído a menor.

O valor máximo seria para uma colheita extremamente cuidadosa que utiliza oito operações e pouco é realizada nas propriedades brasileiras devido a falta de tempo e maquinário disponível. O que comumente se encontra em lavouras com produtividade de 200 a 650 sacas de café ben. ha-1 é a realização da dessecação uma ou duas operações da colhedora um sopramento/enleiramento e um recolhimento que irá demandar o custo de R$ 1.38067 ha-1 a 1.76868. Dessa forma têm-se que a colheita mecanizada de solo e planta é de 5138 a 7929% mais econômica que a colheita manual.

Tabela 4. Rendimento operacional e custo das operações realizadas na colheita do café.

Operação __Nº__ Mecanizado Manual
Capacidade de campo operacional (ha h-1) Custo de uma operação (R$ ha-1) Custo total (R$ ha-1) Capacidade de campo operacional (homem dia-1) Custo total (R$ ha-1)
Dessecação 0 a 1 083 a 111 5258 a 7011 5258 a 7011 50 000 a 24240
Trinchagem 0 a 1 050 11445 000 a 11445 - -
Sopramento/enleiramento 0 a 1 042 14354 000 a 14354 - -
Colheita de planta 1 a 3* 026 a 053 37048 a 74096 74096 a 1.48192 200 a 650 1.97422 a 6.56657
Repasse manual 0 a 1 - - - 80 a 200 86592 a 1.97422
Recolhimento 0 a 1 021 32914 32914 120 a 150 58176 a 72720
Colheita com número mínimo de operações 1 - - 74096    
Colheita com número máximo de operações 8 - - 2.13916    
Colheita usual 6 - - 1.38067 a 1.76868    

* Utilizou-se capacidade de campo operacional de 026 ha h-1 quando optou-se pela colheita com uma operação; 026 e 053 ha h-1 com duas operações e duas vezes 053 ha h-1 e uma de 026 ha h-1 quando optou-se por três operações.

As podas do cafeeiro comumente eram realizadas exclusivamente manualmente. No entanto com o surgimento de esqueletadoras decotadoras e recepadoras atualmente é possível realiza-las mecanicamente com menor custo e com maior rendimento operacional. Com relação aos custos que envolvem as podas têm-se na Tabela 5 a comparação entre as operações de podas manuais e mecanizadas.

Tabela 8. Custo operacional das podas do cafeeiro.

Operação Custo das operações mecanizadas (R$ ha-1) Custo das operações manuais (R$ ha-1) Diferença de custo entre operações mecanizadas e manuais (R$ ha-1)
Esqueletamento 25466 69044 43578
Recepa (só o corte mais remoção) 36151 32463 3688
Recepa total* 61618 1.05107 43489
Decote 18449 42096 23647
Desbrota - 29088 -
Apenas remoção manual - 19392 -

*A poda por recepa exige as duas fases: esqueletamento e recepa (só o corte mais remoção manual).

Diante da superioridade econômica que as operações mecanizadas têm sobre as manuais o cafeicultor deve sempre optar pela mecanização. Para tanto é fundamental realizar o dimensionamento de sua frota verificar a disponibilidade de maquinário e adapta-la quando necessária para a realização de todas as operações na lavoura sem que haja “sufoco” notadamente no período de colheita.

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