Santinato & Santinato Cafés
  • 01/04/2020

Precauções e tratamento para evitar o depauperamento das lavouras (seca de ponteiros/”die-back”)

Dr. Felipe Santinato; Roberto Santinato; Victor Afonso Reis Gonçalves

Acesse: www.santinatocafes.com

Dúvidas: fpsantinato@hotmail.com e 19-982447600 (whatsap)

            O depauperamento das estruturas vegetativas do cafeeiro ocorre quando a translocação de carboidratos de suas reservas (folhas ramos e etc.) ocorre intensamente e sem reposição para os frutos tornando tais estruturas vegetativas mais “fracas” com menores emissões de nós folhas menor engrossamento de tais ramos ao ponto de que eles iniciam um secamento abrupto que o leva à morte.

            A morte desses ramos leva a menores produtividade nas safras seguintes visto que o número de ramos viáveis para produzir são menores além do que com o aumento da radiação solar no interior da planta agora vazada aumenta-se a quantidade de brotos que interferem na produtividade e oneram os custos das lavouras quando desbrotados. O prejuízo também ocorre na safra atual visto que os frutos presentes nos ramos enfraquecidos geralmente amadurecem mais rápido secando e caindo no solo antes do momento ideal da colheita. Aliado a isto tais frutos em certa proporção geralmente estão mal formados (coma apenas uma banda completa) e/ou apresentam peneira inferior.

Tabela. Teores de N e K nas folhas número de ramos mortos por planta e produtividade.

Tratamento Teor nas folhas (g/kg) Ramos mortos/planta Produtividade Sacas/ha
N K
Sem adubo 241 132 17 26
NK 266 15 1 42

*Adaptado de Malavolta (1981).

Outro ponto é que tais ramos debilitados favorecem a entrada de pragas e doenças tais como cercosporiose ferrugem e mancha aureolada. Quando isso ocorre o depauperamento é severo e as plantas chegam a se tornar “esqueletos” com redução total da produtividade da safra seguinte ou seja não produzem nada!

O die back ocorre com maior frequência em lavouras situadas em localidades de clima quente com temperatura média superior a 21ªC faces expostas ao sol pontas de linhas de café lavouras plantadas em solos com menores teores de argila e menores teores de M.O e que não utilizam de adubação orgânica. Porém ocorrem também em lavouras bem estruturadas com solo adequado mas que por uma série de motivos não receberam os fertilizantes nas quantidades adequadas proporções convenientes e na época correta como mostraremos ao longo do texto.

O efeito ocorre também de forma individual ou em reboleiras em plantas que apresentam “peão torto” (decorrentes de plantios mal feitos) lajes subsuperificias cascalhos infestação de nematoides e outras pragas de raiz incidência de fuzariose e outras doenças radiculares.

Os efeitos descritos anteriormente podem ser vistos na série de Figuras a seguir:

Nessas imagens verificamos o efeito do depauperamento se iniciando com a translocação intensa de carboidratos das folhas para os frutos sem a devida reposição. Em pouco tempo os teores foliares diminuíram (vide o amarelecimento) o crescimento dos ramos desacelerou e os frutos começaram a cair no solo.

Figura. Lavoura com elevada carga e não adubada corretamente em tempo hábil (70% antes da granação) em fevereiro (esquerda) e abril (direita) Mococa SP.

            Nesta outra foto vemos claramente as diferenças entre o processo de amadurecimento de plantas sadias e plantas com die-back. As plantas sintomáticas apresentam maior quantidade de frutos secos miúdos menor quantidade de frutos cereja além da incidência de cercosporiose em quase todos os frutos até mesmo nos frutos verdes.

Figura. Frutos de planta com die-back (acima) e de planta saudável (abaixo). Foto de março São João da Boa Vista SP.

Figura. Planta com die-back “doente” com incidência de ferrugem cercosporiose mancha aureolada e maior infestação de bicho mineiro mesmo com tratamento fitossanitário padrão.

Figura. Comparativo do mesmo pé de café em dezembro e março iniciando o depauperamento.

            O die-back também esta ligado a “força” dos ramos em que ramos mais finos e “fracos” apresentam maior seca de ponteiros.

Tabela. Número de frutos no ramo e em cada nó em função dos tratamentos estudados.

Tratamento Número de frutos
No ramo Em cada nó
Média do ramo grosso 757 b 482 b
Média do ramo fino 250 a 297 a
CV (%) 279 353

*Médias seguidas das mesmas letras não diferem de si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.

*Adaptado de Santinato R. (2016).

Tabela. Principais características de ramos pouco e muito produtivos.

Tipo de ramo Comprimento do internódio cm Espessura do internódio mm Número de frutos por nó Número de nós de crescimento
Parte lenhosa com frutos Parte herbácea sem frutos Parte lenhosa com frutos Parte herbácea sem frutos
Terço superior
Muitos frutos e muito crescimento 2586 a 2026 a 353 a 243 ab 996 a 628 b
Poucos frutos e pouco crescimento 1984 b 1061 b 235 c 167 c 164 b 488 bc
CV 2739 2763 1425 1635 4824 4152

*Adaptado de Santinato F. (2018).

A proporção de matéria seca de frutos com a matéria seca (MS) da planta inteira e principalmente a matéria seca das folhas tem ampla ligação com o depauperamento das lavouras “die back”. Isso pois as folhas possuem as maiores reservas de nutrientes e consequentemente de carboidratos da planta que se translocam para os frutos notadamente a partir da fase de granação dos frutos (fase 2 nos gráficos a seguir). Quando a porcentagem de MS fruto/MS planta inteira é elevada (acima de 20%) e/ou a relação entre MS fruto/MS folhas é próxima ou superior a 1 têm-se maiores riscos de depauperamento indicando-se complementações nas adubações tanto via solo quanto via foliar.

Geralmente em plantas mais novas com 30 meses (1ª safra) a proporção de MS de frutos e a MS da planta inteira é elevada devido a planta ainda estar em formação e não raro as produtividades são elevadas quando a lavoura é devidamente implantada e conduzida.

A seguir temos tais relações para lavouras de 1ª safra e para lavouras adultas (2ª a 6ª safras) de cafeeiros Catuaí Vermelho IAC 144 cultivados em três localidades:

Figura. Relação entre MS das folhas/MS dos frutos e MS dos frutos/MS da planta inteira para cafeeiros de 30 meses (1ª safra) (A e B) e ne média de cinco safras (2ª 3ª 4ª5ª e 6ª safras) (C e D) em três localidades.

CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).

Fases fenológicas: 1 = Inicio da expansão dos frutos; 2 = Expansão/granação dos frutos; 3 = Maturação dos frutos.

Fonte: Santinato R & Santinato F (2020).

A proporção de MS frutos/MS da planta inteira decai a medida que a planta se desenvolve e se torna mais velha. Tal proporção se eleva em anos de carga mais elevada vide por exemplo na quarta safra nas três localidades.

Figura. Relação MS frutos/MS total (eixo x da esquerda) e Produtividade de cada safra (eixo x da direita) ao longo de seis safras em três localidades.

CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).

Fonte: Santinato R. & Santinato F. (2020).

Notemos que nas localidades de clima quente e irrigadas mesmo com cargas elevadas (próximo de 70 sacas/ha) e com Rel. MS fruto/MS folha alta houve a possibilidade de obtenção de safras subsequentes satisfatórias (veja 1ª 2ª 3ª e 4ª safras). Na quinta safra houve queda na produtividade e na sexta safra um retorno produtivo adequado mantendo sua média ao redor de 52 sacas/ha. No caso da localidade de clima ameno/sequeiro houve apenas uma safra considerada “alta” (4ª safra) que na sequência ficou bastante reduzida tendo um pequeno incremento na sexta safra que manteve sua média ao redor de 32 sacas/ha.

Figura. Relação MS frutos/MS folhas (eixo x da esquerda) e Produtividade de cada safra (eixo x da direita) ao longo de seis safras em três localidades.

CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).

Fonte: Santinato R. & Santinato F. (2020).

            Há portanto uma maior necessidade de estruturação da lavoura na fase de formação para que em caso de carga alta a planta não se depaupere. Daí o fato de termos que pensar na adubação do cafeeiro sempre de forma bienal para vegetar e produzir adequadamente em anos agrupados e não somente na safra em questão.

Exigências nutricionais para a adubação:

            Lavouras cultivadas em localidades quentes e irrigadas apresentam necessidade de nutrientes diferentes das localidades de clima ameno/sequeiro como pode ser visto na Figura a seguir. A maior matéria seca e consequentemente composição química exige maiores quantidades de todos os nutrientes.

Figura. Matéria seca da planta inteira cultiva em localidade de clima quente/irrigado e clima ameno/sequeiro ao longo de 90 meses (6ª safra).

            Na fase de formação das lavouras temos as seguintes exigências por exemplo para lavoura situada em clima ameno/sequeiro com expectativa de produtividade de 30 sacas/ha (primeira safra) e lavoura situada em clima quente/irrigada com expectava de 70 sacas/ha na primeira safra: “Vale ressaltar que tais exigências reference a extração total da planta (raiz tronco ramos folhas frutos) não significando exatamente que sejam as doses recomendadas para as adubações visto que o cafeeiro também obtêm parte desses nutrientes oriundos principalmente da matéria orgânica e auto-ciclagem de nutrientes ou ainda de adubação verde e etc”. Mais detalhes no livro Composição Química do Cafeeiro de Santinato & Santinato (2019).

Tabela 1. Exigências de nitrogênio (acúmulo) para a vegetação + frutificação na fase de formação da lavoura cafeeira (0 a 30 meses) segmentada nos três períodos de adubação ano 1 2 e 3 na nas três localidades estudadas objetivando atingir na primeira safra 30 sacas/ha no sequeiro e 70 sacas/ha no irrigado.

Ano/fase Idade da planta Localidade
CP LEM LU
Acúmulo de N
(Meses) (kg ha-1)
1 12 560 1130 890
2 24 1350 4050 4240
3 30 1830 4250 3760
Produção 30 1396 32760 3260
Total 0 a 30 3226 7526 7020

CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).

Tabela 2. Níveis de adubação nitrogenada a serem aplicados nos três primeiros ciclos de adubação durante a fase de formação (30 meses) do cafeeiro afim de crescer e produzir adequadamente objetivando atingir na primeira safra 30 sacas/ha no sequeiro e 70 sacas/ha no irrigado.

Ano Idade da planta Localidade
CP LEM LU
(Meses) Nível de adubação nitrogenada
(kg ha-1)
1 Até os 12 560 1130 890
2 Até os 24 790 2920 3350
3 Até os 30 1876 3476 2780

CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).

            Para as lavouras adultas separa-se as exigências anuais para a vegetação e soma-se as exigências da frutificação que variam de acordo com a carga pendente:

            Para isso usa-se a fórmula:

D = DV + (DF x PE)

Em que:

D = Dose do nutriente (kg/ha)

DV = Dreno vegetação = Extração do nutriente para vegetação (kg/ha)

DF = Dreno frutificação = Conteúdo do nutriente para compor uma saca de café beneficiado de 60 kg) (kg/ha)

PE=Produtividade esperada em sacas de café beneficiadas de 60 kg/ha

N = 138 a 201 + (5.1 x PE)

Os valores de 138 a 201 são oriundos da exração para vegetação vide Tabela a seguir. O valor de 51 é referente a quantidade de N necessária para compor uma saca de café (grão mais palha).

Tabela 2. Acúmulo anual de matéria seca(1) e de N P e K para vegetação do cafeeiro em três regiões brasileiras na média de seis safras.

Parametro CP LEM LU
kg ha-1
Matéria seca 7966 12562 11568
N 138 195 209
  • Matéria seca das raízes tronco ramos e folhas. Resultados médios de seis safras. O acúmulo anual de matéria seca e nutrientes foi calculado pela diferença de massa medida em março anualmente na segunda safra (42 meses) à sétima safras em plantas espaçadas em 40 x 05 m.
  • CP = Carmo do Paranaíba (clima ameno e sequeiro); LEM = Luis Eduardo Magalhães (clima quente e irrigado); LU = Luiziânia (clima quente e irrigado).

Existem também uma série de ajustes nas recomendações em função principalmente dos teores de M.O do solo densidade de plantas clima e variedade.

Além da atender as exigências (em nível de nutriente) corretamente deve-se alocar os nutrientes em tempo hábil conforme sua extração que se comporta diferentemente ao longo das fases fenológicas como se vê a seguir:

Figura 2. Extração de N do fruto inteiro (grão mais casca) e nas estruturas vegetativas (raiz tronco ramos e folhas) ao longo dos quatro principais estágios fenológicos do cafeeiro para produtividades de 52 sacas/ha (clima quente e irrigado) e 32 sacas/ha (clima ameno/sequeiro) na média de seis safras.

Fonte: Santinato & Santinato (2020).

            Em muitos casos devido a muitas circunstâncias tais como excesso de chuvas e impossibilidade de adubação em tempo hábil ou ainda secas prolongadas durante o período de adubação (afetando as lavouras de sequeiro) mal planejamento agrícola com compra insuficiente dos adubos ou até mesmo atraso na entrega do fertilizante e também erros nas avaliações prévias de produtividade com sub-estimação da carga.

            Quando isso ocorre os danos podem muitas vezes serem irreversíveis. Em muitas situações de lavouras apresentando depauperamento ainda com os frutos nos pés amadurecendo mesmo com a aplicação extra dos adubos as respostas são pequenas. Aparentemente as respostas das adubações via solo são pouco eficientes por algum motivo ligado ao sistema radicular. Quando isso ocorre deve-se fazer complementações nutricionais via foliar com sucessões de aplicações de nutrientes aminoácidos que na prática vem apresentando efeitos benéficos ao cafeeiro.

            Dessa forma juntamente com os fungicidas e inseticidas escalados para serem pulverizados em determinado talhão em função do programa fitossanitário deve-se adicionar uma completação nutricional. Tal complementação é variável principalmente com relação aos resultados das análises foliares. Comumente se aplica os seguintes nutrientes nas devidas proporções: 3 kg/ha de MAP + 2 kg/ha de sulfato de Mg + 3 kg/ha de KNO3 + 3 kg/ha de sulfato de amônio + 20 kg/ha de açúcar ou melaço. Essas recomendações são aplicadas com êxito há décadas em milhares de hectares de café com amplas respostas satisfatórias e reduzem o depauperamento.

Dr. Felipe Santinato – Pesquisador e Consultor da Santinato Cafés; Pós doutorando IAC Campinas SP.

Engenheiro Agrônomo formado na UNESP Jaboticabal (05/08/2013) Mestre em Produção Vegetal pela UFV Rio Paranaíba (22/07/2014) Doutor em Produção Vegetal pela UNESP Jaboticabal (05/12/2016) trabalhando principalmente com Nutrição de plantas Colheita mecanizada do café e Agricultura de Precisão. Publicou dois livros 39 Artigos Científicos Nacionais e Internacionais 133 Trabalhos publicados na área cinco Capítulos de Livros nove Boletins Técnicos ministrou cerca de 69 palestras e treinamentos para agrônomos consultores e cafeicultores em todo território cafeeiro. Atualmente é aluno de Pós Doutorado no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) aonde realiza pesquisas objetivando aumentar a eficiência na utilização dos nutrientes na cafeicultura entendimento e redução da bienalidade produtiva e sustentabilidade do processo de produção de café. Também lidera um amplo projeto interinstitucional sobre resistência a seca bicho mineiro nematoides e produtividade com novas variedades em áreas irrigadas e de sequeiro em quatro localidades do Cerrado Mineiro e Goiano. Produz café em São Paulo e Minas Gerais presta consultoria em Fazendas e coordena  cinco Campos Experimentais (São João da Boa Vista SP; Patos de Minas MG; Rio Paranaíba MG; Araxá MG e João Pinheiro MG).

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